Os Soldados e o Rato

Eu, aqui na casa dos meus pais, começando a ver o filme “A Casa de Alice”, quando a cena de um rato na cozinha me trouxe um fato de 22 anos atrás à tona. Não poderia deixar de compartilhar, pois quase acabamos com o Palácio Duque de Caxias, na Central do Brasil.



Tinha acabado de completar 18 anos e estava servindo ao exército. Fiz meu período básico, como conscrito, no 24 BIB, na entrada da Ilha do Governador - onde, quatro anos antes, tentei me aventurar como ponta-esquerda na peneira do Fluminense, mas isso é outra história.Voltando ao fato, objeto dessa prosa, depois de três meses indo para o quartel de Ilha, eu e mais 15 soldados, a maioria jovens da Zona Sul, fomos transferidos para o Arquivo Histórico do Exército, no subsolo do Palácio Duque de Caxias. Vale ressaltar que saímos de uma vida de cão, onde acordávamos 4h30, tirávamos plantão e vivíamos a vida de alerta de um quartel, ao lado da favela Roquete Pinto, onde o clima era bem tenso, para uma vida mais tranquila, nos apresentando às 9h, hora de almoço, saindo às 17h e mais perto de casa.


No nosso trabalho no arquivo, organizávamos todas as pastas, em enormes estantes de ferro e uma poeirada só. Mas confesso que era hilário, Depois do sofrimento como boina preta, estávamos no paraíso. Um belo dia, tivemos que colocar remédio para matar os ratos que insistiam em fazer sua moradia dentro do quartel. Quando, já no fim do expediente, eu e mais dois soldados encontramos um ainda resistente ao veneno. Chamamos nossos companheiros de batalha e decidimos que devíamos acabar com o meliante a qualquer custo.E a imbecilidade mostrou sua face jovial na cabeça dos jovens militares. Eis que, alguém - sempre tem um infeliz com uma ideia mais infeliz ainda - tem a brilhante ideia de jogar alcool no bicho, já cambaleante, e atear fogo. E nós, idiotas que éramos, achamos a melhor ideia do mundo. Aceita a sugestão, providenciamos o alcool e o fósforo. Não estávamos os 16, acho que só 10 dos juvenis, mas foi difícil conseguir acertar o fósforo. Um mais medroso que o outro. Mas enfim, conseguimos. E logo se fez uma bola de fogo, o bicho soltou um gemido. Para nós, tinha morrido. Estávamos esperando a chama apagar para limpar a sujeira e retirar o cadáver queimado. Mas, eis que de repente, a bola de fogo sai correndo. Isso mesmo. O bicho, desesperado, começa a correr em meio às estantes lotadas de papel. O desespero tomou conta dos 10 patetas. Até que alguém, teve a brilhante ideia de pegar uma vassoura e conseguiu acertar o bichano, que acabou sendo exterminado. Só aí demos conta de que poderíamos ter incendiado o quartel com uma brincadeira de tão mau gosto, tão imbecil. Enfim, derrota também é para ser contada, que me desculpem os politicamente corretos. E como diz o Paulinho Gogó, personagem do meu colega dos tempos de Tupi, Maurício Manfrini: “ Quem não tem dinheiro conta História”.

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